terça-feira, 20 de outubro de 2009

A VITÍMA

     Hoje em dia parece que virou costume, passar os outros para trás. Todos querem levar vantagem sobre os outros. Há uma epidemia de corruptos por toda a parte. Não basta os ladrões, assassinos e arruaceiros que proliferam a nossa sociedade.
     Somos lesados à toda hora. Todos os dias ao fazermos as nossas compras no supermercado pagamos impostos nas mercadorias. E se, descuidarmos, levaremos para a nossa mesa, mercadorias ruins, prazos de validade vencidos e um preço exorbitante. Parece que não tem jeito mesmo.
     Se bobearmos nos passam a perna. Toda atenção é pouco. Nos adultos devemos mudar esse sistema. Posso dizer que somos culpados por essa proliferação de desonestos. Se todos, unirmo-nos em uma campanha acirrada, embora demorada, com certeza em longo prazo diminuiremos muito esse mal que nos aflige e nos causa tanto mal.
     Certo dia me preparei para ir a um médico. Estava com problema de pele. Pelo telefone marquei consulta com uma médica dermatologista. Claro, sendo uma mulher eu caprichei no visual. Após o banho coloquei um perfume que só uso em caso especial e coloquei uma roupa de morrer. Como se diz no ditado popular "fiquei *nos trinques".
     O meu carro também estava legal, estava lavado e perfumado. Até parece que eu ia visitar a namorada. Doente também pode ficar bonito. Quero dizer, bonito nunca fui, a gente pode melhorar um pouco. Como morava nos arrabaldes e a consulta seria no centro, certamente teria que ir de carro.
     Chegando no centro da cidade já fui assediado por um flanelinha. Sem que pedisse ele já se escalou para cuidar do meu carro. Não pude contestar, visto que já estava atrasado. Fui forçado aceitar o serviço desse esperto cuidador de carro. Não demorou nem um minuto, quero dizer, caminhei meia quadra quando fui abordado por um pedinte. Este me pegou de bom humor, já marchei com dois *pilas.
     Chegando no consultório tive que pagar mais uma taxa e lá se foi mais doze reais. Isto porque tenho um plano de saúde, mas essa taxa é normal segundo a secretária dessa clínica. Tudo bem! Até porque fui prevenido monetariamente. O bom ou ruim não sei mesmo o que vou dizer referente à doutora porque ela era linda, muito bonita mesmo.
     O chato era que ela me mandou tirar a roupa, para me examinar. Fiquei realmente muito envergonhado, visto que eu sou feio com roupa e muito mais sem roupa. O fato é que, quando fui me despir, caiu do bolso das s calças várias moedas. Olha! Naquela época essas moedas valiam muito. Por isso fiquei eu, pelado de quatro, catando as moedas espalhadas pelo consultório. A doutora ficou rindo do meu jeito. Tudo bem, pelo menos eu catei todas, não deixei nenhuma para ela. O que adiantou eu vestir a melhor roupa, visto que ela queria mesmo, é me ver nu, sem roupas.
     Que médica danada!
     Vira de costa, vira de frente, de lado, ela examinou praticamente todo o meu corpo. Eu parecia uma mercadoria da feira, sendo examinado por uma exigente dona de casa. A minha cara ficou vermelha de vergonha e ela não estava nem aí.
     Por fim veio o diagnóstico, mas antes vesti a roupa. Nada grave, não contagioso mas difícil de curar totalmente. Foram essas as palavras dessa competente doutora.
     Esta profissional aviou uma receita, na qual hávia apenas um remédio, uma pomada. Teria que passar três vezes ao dia. Tudo bem, após as despedidas, fui comprar na farmácia o dito medicamento.
     Para minha surpresa a pomada era bem pequenina, tinha apenas 10 gramas de conteúdo. A surpresa maior era o preço, mais de cincoenta reais custava a tal pomada. A malvada doença estava espalhada pelo meu corpo, olha que eu sou pesadinho (bota pesadinho nisso). Praticamente esse medicamento não daria nem uma semana. Então comprei a danada e comecei a usar apenas uma vez por dia, para economizar o bolso, quero dizer a pomada.
     Claro, usando assim eu economizei, mas pouco adiantou o tratamento. Fiquei a mesma coisa no que se refere a doença de pele. Todos os meses eu marchava com esse caro medicamento e assim foi passando os meses. Babosa e álcool me ajudavam um pouco nesse tratamento caseiro, porém barato.
     Passou um ano e essa tal pomada subiu para quase setenta reais. Aí foi uma paulada no bolso desse pobre e enfermo contribuinte. Mas tudo bem, embora o meu salário não tenha subido nada, tinha que tirar a grana do trago e do churrasco para conseguir comprar essa malvada pomada.
     Assim foi passando o tempo, diminui a minha cerveja, o meu churrasco, para continuar comprando o meu remédio, o qual não estava adiantando nada. Mas também como iria adiantar, se eu estava fazendo errado esse tratamento.
     Um belo dia, o farmacêutico me disse que tinha um medicamento igual que custava menos da metade do preço, e outra coisa, este continha o dobro de pomada. Era o tal de “Genérico”.
Mas que coisa , eu não sabia que existia esse tal medicamento. Ninguém me avisou. Não sei quem culpar, se a médica, o farmacêutico ou eu mesmo.
     Só sei dizer que tive um grande prejuízo durante muito tempo. Fiquei economizando o meu trago, o meu jogo de sinuca, quase sem o meu churrasco semanal e ainda mais, não melhorei patavina de nada.
     Mas graças a Deus estou vivo, sem dor e tocando a vida até quando o nosso Pai Celestial quiser.
     Para encerrar essa história eu vou dizer uma coisa para você leitor. Eu sou mais uma vítima deste sistema inadequado e injusto.

     * nos trinques = bonito
     * pila = reais

A PARTIDA

      Na década de 70, do século 20, na cidade de Porto Alegre , Fernando e sua família moravam numa humilde casa, em um bairro afastado dessa grande cidade. Ele veio do interior do Estado para tentar a vida na capital. Aqui conheceu a sua companheira, casaram-se e tiveram uma filha. Lúcia era o nome, uma linda menina.
      Fernando tinha nessa época, 28 anos e sua esposa 23 anos e viviam na mais completa felicidade. Eram pobres, humildes mas muito trabalhadores. Ela fazia uns bicos, lavando para fora, em quanto ele, era um excelente pedreiro.
      Fernando apesar da idade, já tinha muita experiência nesse ramo de construção. Uma casa de alvenaria, ele sabia construir do alicerce até o telhado. Encanamentos, fiação de eletricidade e madeiramentos da cobertura, não era problemas para ele.
      Esse competente trabalhador, nessa grande metrópole foi em seguida contratado por uma firma como empreiteiro de obra. Era um pequeno edifício que ele teria que prestar serviço como responsável pela mão de obra. Ele ficou contente com a promoção e com o seu salário.
      Fernando e Maria Helena eram muito religiosos. Rezavam constantementes, sempre agradecendo á Deus, pela vida, pela saúde, pelo emprego e pela proteção dos anjos da guarda. Aos domingos eles iam a igreja para assistirem a missa. A bela Lúcia veio completar a felicidade dessa família.
      Este empreiteiro de obras, em seguida comprou um carro. Era o seu primeiro automóvel, um Volkswagen usado, mas inteiro e bonito. Tudo ia bem para essa família. Agora ele tinha uma condução para ir aos fins de semana para a praia. Eles gostavam muito de ir ao litoral, principalmente no verão.
      A sua moradia seria a próxima meta para esse casal. O casamento, a casa própria, um filho e um carro era os sonhos desse bom homem. Este, aos poucos ia conquistando, sempre com a ajuda da sua fiel companheira.
      Trabalho era que não faltava para esse competente profissional. O seu patrão, um jovem engenheiro que gostava muito dele, já tinha avisado, que tinha pegado outra grande obra nessa capital.
      O destino estava sendo benevolente com eles, e estes, agradeciam todos os dias essa boa vida que estavam levando. Deveras, eles eram sem dúvida, merecedores dessa vida digna e promissora. Estavam fazendo por merecer. Mas nem sempre é assim. Muitos são dignos trabalhadores e não tem a sorte de conseguir um trabalho, uma casa ou uma família. As vezes o destino é adverso com certas pessoas, causando muitas dificuldades com elas.
      Certo dia, mais precisamente uma sexta feira de noite, Fernando com a sua família, resolvem passar o fim de semana no litoral. Maria Helena rapidamente arrumou todas as coisas para esperar o marido pronta. Ela estava contente, pois sempre gostou de praia. A pequena Lúcia de um ano apenas parecia entender o que estava esperando. Ela sorria constantemente para a sua adorada mãe. Certamente puxou a sua mãe pois ela gostava de andar de carro e de praia. Apesar de estar caminhando a pouco tempo ela já gostava de brincar na areia.
      Estava dia ainda, apesar dos relógios marcarem 19:00 horas, quando Fernando chegou de carro, para imediatamente partirem para a cidade litorânea do estado de Santa Catarina. A viagem era um pouco longa visto que ele era acostumado a ir na praia do seu estado. Agora eles iam para outro lugar mais longe. Esta viagem estava prevista um tempo de aproximadamente umas quatro horas. Na verdade este motorista não tinha muita prática em viagem longa. Esta era a primeira, mas ele era muito cauteloso. O seu carro estava bom e certamente chegaria no seu objetivo tranqüilo.
      Eles então partiram. O relógio de pulso dele marcava 19 horas e 45 minutos quando já estavam quase saindo de Porto Alegre. A mãe estava sentada no banco da frente com a sua filha no colo. Ele faceiro da vida cantarolava uma canção proveniente do rádio. Apesar de ele ir devagar mas com pouca demora já estavam saindo do seu estado e entrando em Santa Catarina.
      A noite estava estrelada, a lua brilhava, ostentando a sua beleza para a alegria dos enamorados. O vento sul soprava discretamente fazendo com que a noite fosse maravilhosa e refrescada por esta aliada brisa. Tudo indicava que o dia seguinte seria de um intenso calor. O fim de semana preludiava ser magnífico para colaborar com os veranistas.
      Voltando a comentar a viagem dessa bonita família. Eles descansavam depois de se alimentarem em um bar de beira de estrada já em outro estado. Faltava aproximadamente uma hora para chegar no seu destino final. A pequenina Lúcia adormeceu no colo da sua progenitora. A dedicada mãe acomodou a mesma, no banco de trás do carro. Ela colocou alguns travesseiros em redor da garota para proteger de alguns solavancos ou freadas bruscas , se por ventura acontecer.
      Assim eles iniciaram a viagem de ida para a praia catarinense. Volta e meia a mãe olhava para observar a sua querida filha.
     Falta pouco querida! Daqui a pouco estamos lá! Falou o marido motorista, sorrindo para a sua bela esposa.
     Tudo bem! Não corre muito! Respondeu a companheira Maria Helena.
      Já fazia poucos minutos que eles estavam em viagem. A estrada estava muito movimentada. Muitos carros e caminhões transitavam rápidos nessa estrada perigosa. Fernando estava atento no volante do seu pequeno automóvel, apesar de ser estreante em rodovias movimentadas.
      Maria Helena acende a luz interna do carro e olha mais uma vez para sua querida filha.
     Fernando ela está sorrindo dormindo! Comentou a dedicada mãe.
      Está tão pálida! Tornou a comentar Maria Helena apagando a luz interna do veículo.
Meu Deus! Que luz forte nos meus olhos! Falou o apavorado Fernando.
      Estas foram as últimas palavras ditas pelos tripulantes desse fatídico carro. Nesse exato momento um caminhão desgovernado que vinha em sentido contrario invade a pista do Fuca e bate do lado do pequeno carro.
      O carro de Fernando abalroado pelo caminhão capota várias vezes saindo fora da pista. O caminhão também capota em cima da pista sendo ainda colhido por outro carro pequeno. Foi tudo rápido. O Volkswagen de Fernando ao capotar injeta para fora o casal, pois os mesmos tinham esquecidos de colocarem os cintos de seguranças.
      Maria Helena bate a cabeça e perde os sentidos. Fernando rola pelo o asfalto, mas em seguida se levanta meio tonto. O seu carro imediatamente pega fogo e explode no acostamento para o desespero do motorista Fernando. Ele ainda tenta entrar no carro em chamas para salvar a sua querida filha. Este então foi contido pelas pessoas que estavam agora no local. Nada se podia fazer depois que explodiu o pequeno carro.
      Rapidamente chegam no local do acidente, viaturas policiais e ambulâncias para socorrer os feridos. Fernando tentava desesperadamente a chegar perto do seu carro em chamas. Foi preciso os policiais a força tira-lo de perto do carro incendiado. Maria Helena ainda desacordada foi levada para dentro da ambulância. Seu marido também ferido, foi levado para a mesma ambulância, e rapidamente deslocaram-se para o hospital da cidade mais próxima. Outros feridos também foram socorridos em outra ambulância.
      O engenheiro Ramos, patrão do Fernando foi avisado e este avisa os parentes do seu empregado. Esse bom homem viaja para o local onde está internado o seu empregado e sua esposa. Ramos então assume as despesas com o hospital e fica na cidade para assessorar o desenrolar do acidente.
      Dois dias depois, ambos acidentados deram altas do hospital. Agora já juntos dos familiares na cidade de Porto Alegre, dão inicio ao enterro da sua filha querida. No cemitério, na hora da derradeira despedida a mãe fica desesperada, chorando copiosamente, não se conformando com a morte prematura de seu nenê. Ela grita, dizendo que é culpada pela morte da sua filha. Os familiares dessa mãe desesperada ajudam a conter o desatino dessa mulher. Fernando também, foi preciso o apoio dos familiares e amigos para poder suportar tamanha dor.
      Depois de muito choros e lamentações a inocente criança em um pequeno caixão lacrado foi depositada em um túmulo do cemitério. Parecia que desabou o mundo na cabeça desse desafortunado casal.
      O engenheiro Ramos deu umas férias adiantada para o fiel colaborador Fernando. Na verdade o bondoso patrão disse que se em trinta dias ele não tivesse em condições de trabalhar, poderia ficar mais dias, até estar apto para o serviço. Ramos sabia que essa dor de perda de seu ente querido era doloroso. Mas o tempo é remédio para tudo. Isso um dia iria passar.
      Depois de trinta dias do acontecido, o fiel empregado já estava trabalhando na grande construção. Até por que o trabalho ajuda a esquecer a grande perda. Maria Helena não estava conseguindo se conformar com a perda da sua filha. Ela chorava todos os dias. Abraçava nos brinquedos e nas roupas da sua filha e chorava. Ela dizia em voz alta que era culpada pela morte da sua filha. Não adiantava os familiares ou amigas dizer que era uma fatalidade.
      - Minha filha sofreu muito ao morrer queimada ! Ela não merecia morrer sofrendo desse jeito ! Ela é um inocente! Por que Deus fez isso com ela?
      Isso era que essa pobre mãe dizia todos os dias para as pessoas que tentavam acalma-la. O tempo foi passando e ela continuava com esse martírio.
      Seis meses se passaram. Fernando estava mais conformado pois trabalhava muito na obra e ao chegar em casa queria descansar apesar das lamentações da sua esposa. Maria Helena estava definhando pois pouco se alimentava. Parece que o sofrimento dela não tinha mais fim.
      Ela perdeu a vontade de viver e se maldizia. Culpava-se dizendo que essa morte horrível não era para uma criança tão inocente. O marido tentava consola-la, mas estava difícil. Deixou de ser religiosa e criticava Deus por ser tão injusta com ela.
      Certo dia de manhã essa jovem mãe saiu para a rua para caminhar. Era nove horas, o dia estava bonito pois nesse sábado havia um sol maravilhoso. Ao chegar em uma praça que fica a duas quadras da sua casa, ela parou e sentou-se em um banco. Ainda triste, chorando baixinho começou a observar as crianças brincando nos balanços e no escorregador. Estas estavam fazendo grande algazarras se divertindo, também brincando de pega pega. Ali havia também alguns pais observando a faceirice dos seus filhos.
      A desafortunada mãe , contemplando aquelas lindas crianças, sentada sozinha nesse banco da praça baixou a cabeça e começou a chorar. Nesse meio tempo um velho maltrapilho com um saco nas costas pediu licença e sentou-se ao lado da inconformada mãe. O saco velho parece que estava pesado pois o mesmo tirou das costas e colocou no chão perto dos pés dele. Ela meio desconfiada olhou para aquele velho barbudo e mal arrumado e disse:
     Sinto muito meu bom homem, mas não tenho nada para lhe dar!
      A senhora tem sim! Eu quero algo que a senhora tem muito e vai dar para mim Respondeu o velho.
     Não estou te entendendo! Respondeu Maria Helena.
      A senhora poderia me dizer por que está tão triste e chorando desse jeito ? Perguntou o velho enjerido.
      Maria Helena meio sem jeito olhou para que velho e sentiu uma paz inesperada. Sentiu uma sensação de conforto, segurança e de alívio. Porém mais calma passou a contar a sua historia para esse desconhecido velho.
      Este ouviu atentamente a história dessa mãe. Ela não viu que o seu marido estava algum tempo observando-a sentada no banco da praça. Ele não se animou a ir até ela, se limitou a olhar e fazer uma pequena oração para a recuperação da sua companheira.
      Nesse meio tempo, passa uma vizinha conhecida e amiga da mãe inconformada. Esta então ao passar pela amiga cumprimenta-a.
     Bom dia Maria Helena! Tudo bem contigo? Perguntou a vizinha.
      Tudo bem! Respondeu Maria Helena ao levantar a cabeça para ver quem estava cumprimentando.
      Esta vizinha e amiga, depois de cumprimentar a Maria Helena continuou a caminhar em direção á um armazém.
     A Maria Helena não está bem da cabeça! Ela estava falando sozinha! Coitada dela! Pensou a amiga.
      Depois de cumprimentar e abanar para a sua vizinha ela continuou a falar com o bondoso velho. Este depois de ouvir toda a história dessa desafortunadaa mãe, começa a explicar o porquê de tudo isso.
     A tua filha nesse momento está muito bem! Ela está na maior felicidade junto com os Anjos! Lá não existe dor e nem tristeza! Ela está alheia as coisas negativas e desagradáveis oriundas desse mundo!
      Assim este sábio homem começou a explicação e respondendo as perguntas dessa pobre mãe.
      - Quando na hora do acidente, você olhou para a sua filha, a pequena Lúcia já tinha acabado de partir com dois anjos emissários. Essa criança ao ver os dois lindos anjos, sorriu para eles e juntos saíram voando do carro em direção ao céu. No rosto da bela menina ficou um sorriso, naquele corpo já sem serventia. Isso aconteceu alguns segundos antes do acidente. Esta criança portando não sentiu nada de dor, pois o seu espírito já estava longe do seu invólucro. O acidente e o fogo não causaram sofrimento nenhum nessa criança predestinada.
      - Mas isso não é comum acontecer. São raros os casos em que o espírito sai antes do corpo ao se confrontar com um caso mortal. Os dois Anjos saíram de mãos dadas com ela, antes de acontecer esse lamentável e fatídico acidente. Portanto ela não sofreu nada. O ciclo dela se fechou, e estava na hora de partir.
      - Quanto a maneira que ela desencarnou, devido esse acidente horrível, teve algumas causas.
      - Primeiro, foi por que você tinha que passar por essas coisas, para resgatar dívidas passadas.
      - Segundo, por causa dessa péssima estrada. Um acidente grave de proporções como esse, chamaria a atenção do governo. Este certamente haverá de tomar algumas providência. Consertando essa estrada, deverá evitar de acontecer outros acidentes. Com isso menos pessoas seriam feridas ou mortas. É o velho ditado popular "há males que vem para o bem". Continuou explicando o velho homem.
      - Quanto ao motorista do caminhão, também tinha que passar por isso. Ele está bem, se recuperou. O caminhão não era dele, mas tanto o veículo como a carga estavam no seguro e com isso os prejuízos forão ressarcidos. O dono da empresa teve apenas contra tempos, nada que pudesse ser resolvido em pouco tempo. A empresa não decaiu com isso.
     
Quanto a você mãe! Não deves mais chorar ou ficar triste por causa da perda da sua filha! Estava na hora dela partir! Você cumpriu a sua tarefa de amá-la e cuidá-la! Falou com sabedoria o velho amigo.
     Vou colocar no meu saco velho todas as tuas angústias e tristezas referente a este caso! Vou embora com essas coisas adversas tirada de você e despejar no rio, que o levará para o mar! Falou o homem amigo.
      Há! Tem outra coisa para te falar! Tu vais ter, em menos de um ano um filho e depois outros! Estes viverão muito tempo e te darão muitas felicidades! È a tua missão amá-los e cria-los e juntos serão felizes! Terminou de falar o amigo desconhecido, depois de cumprir a sua missão.
      Depois disso, o velho maltrapilho levantou-se, colocou o saco nas costas, porém agora mais pesado, deu um beijo na testa da sua ouvinte e saiu a passo. Logo em seguida o velho sumiu misteriosamente.
      Maria Helena ficou impressionado com as explicações desse velho sábio. Uma calma, uma sensação de bem estar tomou conta dela. Ela estava bem, parece que o mal estar que ela sentia foi embora. Parece que um grande peso saiu de suas costas e foi parar no saco velho que o bom homem carregava.
      Nesse momento Fernando chega perto da sua amada, beija-a no rosto e senta ao lado dela. Ele pergunta se ela está bem. Ela responde que sim. Depois da conversa que teve com o velho maltrapilho ela esta muito bem.
     Que velho meu amor? Tu estavas sentada sozinha! Não vi ninguém conversando contigo! Explica o dedicado marido.
     Mas estava sentado do meu lado um velho estranho mas muito bondoso! Tem certeza que ele não estava do meu lado conversando comigo? Pergunta assustada.
      Sim! Tenho certeza disso! Pois fiquei um tempão observando tu falar sozinha! Pelo jeito estas bem! Falou Fernando meio preocupado.
      Maria Helena conhecia bem o seu marido e ele nunca mentiu para ela. Se ele disse que ela estava sozinha, é porque realmente ele não viu ninguém sentado conversando com ela.
      Logo depois eles conversaram um pouco, levantaram do banco da praça e saíram caminhando abraçados em direção a sua casa. Ela estava radiante, diante das explicações do misterioso homem.
     Vamos para casa meu amor! Estou com muita fome! Falou a esposa abraçando fortemente o seu marido.
     Claro! Vou te preparar um bom café! Respondeu o feliz marido ao sentir-se abraçado pela recuperada esposa.
      O tempo passou depressa depois disso. Fernando ficou muito feliz com a total recuperação da sua esposa, ainda mais com a notícia da gravidez dela. Esta família feliz, estava prestes a ser aumentada por uma menina, que nasceria em breve.
      O velho emissário tinha razão. Fernando e Maria Helena tiveram mais filhos, conseguiram comprar a sua casa própria e posterior um lindo carro. A felicidade, a prosperidade e a paz passaram a fazer parte daquela linda família. Com certeza por muitos anos.



A PERTUBAÇÃO

    Quase toda noite Carol despertava de madrugada e chorava forte. Sua mãe apesar de ser muito dedicada, não conseguia acalmá-la. Carolzinha chorava e gritava:

     - Vô...Vô...Vô.. e com os braços estendidos, caminhava rapidamente para o colo do seu avô. Seu avô nessas alturas já estava em pé no corredor da casa para esperá-la.

     Isso estava acontecendo de uns tempos para cá. O bom deste fato, é que esta criança (quase 2 anos), se acalmava rapidamente no colo desse amoroso avô.

     As preces fervorosas e as cantigas evocando sempre os Anjos da Guarda para a proteção desta criança aflita, era cantarolada por este religioso senhor. Acreditava ele que suas orações resolveria a situação.

     Na verdade dava certo, pois em um instante Carolzinha dormia nos braços do seu avô e era devolvida para a sua mãe. Outras vezes ele colocava-a junto da avó, a qual ajeitava com todo carinho em sua cama.

     Nessa noite de 12 de julho de 2008, mais precisamente a 01:40 h, não foi diferente. Pelo menos ele achava que era igual às noites passadas.

     Um choro forte e constante proveniente da pessoa mais amada da casa fez com que rapidamente ele se acordasse e punha-se em pé. A aflita mãe não conseguia acalmá-la. Ele acendeu a luz da cozinha para clarear a casa e foi pegar a Nenê no colo para acalma-la como de costume apesar do choro forte da criança.

     Mas o fato é que este dedicado avô não estava conseguindo acalmar a sua neta. O choro era alto, e a avó também se acordou. As fraldas foram trocadas imediatamente. Nada estava adiantando , pois ela chorava alto e constante. O avô embalava e rezava em voz alta para que esta criança parasse de se debater e chorar.

     Um mal estar rapidamente tomou conta deste dedicado avô. Calafrios, arrepios e vontade de chorar, se manifestou nesta pessoa.

     De repente, um inesperado grito (alto) foi dado. Era a mãe do nenê, que chorando, correu para os braços da sua mãe que estava orando em sua cama.

     Ela disse que viu uma pessoa estranha passando do quarto dela para a cozinha. Carolzinha no colo do se avô chorava muito. Na sala, este avô, rezava fervorosamente em voz alta.
Mãe e filha abraçadas no quarto, rezavam muito. Parece que não estava adiantando, pois o choro do nenê continuava insistentemente.

     Depois de uns minutos passados a Carolzinha se acalmou nos braços de seu avô e parou de chorar. Por sua vez também a sua mãe também parou de chorar, mas sempre abraçado na sua progenitora (avó do nenê).

     A criança já dormindo, agora já nos braços da avó era abençoada por esta segunda mãe. Posterior todos sentados no sofá da sala, a vidente mãe explicou melhor o que ela viu.

     Era uma pessoa de quatro pé que se arrastava pela casa, indo do quarto para a cozinha. Era de cor cinza e de aspecto horripilante.

     Muitas preces foram feitas por essa família. Os Anjos da Guardas foram solicitados para guarnecer e proteger essa casa pelo dedicado avô. Pouco tempo depois, a paz foi restabelecida.

     Obrigado meu Pai pela proteção destes bons Anjos da Guarda. Que eles sempre estejam por perto de nos. Que eles não deixem que estes espíritos sem luz possam nos prejudicar.

Amém!